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Reflexões sobre o consumo em uma modernidade líquida


Christian Boltanski - Storage Memory


O crescimento do consumo


Para que a industrialização desse certo, era preciso não só produzir uma abundância de produtos, mas também uma abundância de demanda. Desde então as pessoas são encorajadas a comprar mais do que o necessário.



Fila para comprar Iphone 6s em unidade da Apple na China


 

Crédito e propaganda


Na década de 20, com a crescente concorrência entre as industrias, houve um boom nos setores de marketing e publicidade, quem aparece mais, vende mais. Na mesma época a industria do crédito nasceu, e a mentalidade "compre agora, pague depois" faz com que as pessoas vivessem sempre endividadas.



"Você carrega dezesseis toneladas, e o que ganha? Um dia mais velho e mais endividado São Pedro não me chame pois eu não posso ir Eu devo a minha alma para a loja da companhia" - Ernie Ford
 

O consumo do sonho americano


A cultura popular do meio do século aproveitou todas as oportunidades para mostrar que o trabalho duro poderia levar a um estilo de vida confortável, para ser um "vencedor" você tinha que ter uma casa no subúrbio com cerca branca, 2 crianças, uma geladeira bem cheia e um carro. Mais uma vez a propaganda nos convence de como viver a nossa vida e como gastar o nosso dinheiro.



Ilustração do sonho americano


 

O consumo individualista


"Mesmo que não existam mais os mitos à moda antiga, nós continuamos a ver o mundo através da imagem. As imagens publicitárias, de comunicação, da moda, do cinema, estruturam os olhos e os comportamentos dos consumidores" - Gilles Lipovetsky

A indústria da propaganda percebeu a crescente individualização dos estilos de vida, e atendeu desejos cada vez mais específicos voltando sua atenção para mercados de nichos e públicos alvo.



Capa do livro de fotografias Paris, New York, Shanghai de Hans Eijkelboom


“Tentamos com cada vez mais afinco expressar nossa própria individualidade, mas paradoxalmente o fazemos de tal maneira que muitas vezes conseguimos expressar apenas uma impessoalidade abstrata” - Lars Svendsen

 

A era do consumismo


Nos anos 90 uma nova onda de conscientização ambiental provocou um despertar sobre os riscos do consumo excessivo, mas parece que ninguém ouviu.



28 de Abril de 2013, Desabamento do edifício Rana Plaza em Bangladesh


Novas técnicas de manufaturas e mão-de-obra barata impulsionaram ainda mais o volume de produção, fazendo tudo ficar descartável. A tecnologia digital estava evoluindo mais rápido do que nunca e ter coisas mais novas se tornou uma prova de status e sucesso. O consumo se tornou consumismo (sufixo que pode significar sistema político, religião, ideologia, ou doença), a mídia de massa passou a falar sobre os sintomas negativos da compulsão por comprar e de repente estamos vivendo numa realidade onde o consumismo deixa as pessoas em um estado permanente de ansiedade.


“We buy things we don’t need, with money we don’t have, to impress people we don’t like” - Chuck Palahniuk

O consumismo é um ciclo vicioso onde tanto a indústria quanto o consumidor tem a sua parcela de responsabilidade. E não é um selo "verde" que vai resolver o problema. Somente nas ultimas três décadas, um terço dos recursos naturais da terra foram consumidos.

  • 90% dos mamíferos grandes foram extintos

  • 95% da população marinha foi extinta

  • 75% das áreas de florestas foram devastadas

  • 40% do solo foi desertificado

  • 40% da camada polar do Ártico derreteu

  • A temperatura do Planeta aumentou 0,8 graus

  • 1 criança morre de fome a cada 5 segundos no mundo

  • 5 mil pessoas morrem por dia com água contaminada

  • 1 bilhão de pessoas não tem acesso a água pura

  • 2,8 bilhões de pessoas tem acesso restrito a água

  • São produzidas 80 bilhões de roupas por ano

  • 30% não são utilizadas

  • 24 bilhões de resíduos de roupas por ano

  • 12 toneladas de descarte inapropriado no bom retiro por dia

  • Moda é a segunda indústria que mais emite Co2

  • É a Segunda indústria que mais gasta água

  • É a Segunda que mais polui os oceanos

  • 1 fazendeiro ou agricultor se suicida a cada 30 minutos

  • 200 mil morreram nos últimos 30 anos em Bangladesh

  • A média do consumo mundial atual corresponde a 1,7 Planetas

Isso é um processo de autodestruição, e o mundo esta desesperado por alternativas.


 

Economia compartilhada


Uma nova mentalidade de consumo, a economia compartilhada, coloca o acesso acima da posse, você não precisa mais comprar um bem para usufruir dele, e embora a economia compartilhada parece um passo à frente, ela não reduz o nosso desejo de consumir, ela simplesmente reduz a posse.



Ilustração de aplicativos que incentivam a economia compartilhada


Toda a propaganda carrega a mensagem "compre isso e seja mais feliz". Mas isso é uma ilusão. Já não está na hora de acordar? Toda mudança precisa começar de algum lugar, nesse caso, ela tem de acontecer na sua consciência. De agora em diante, antes de se deixar levar por qualquer impulso de consumo, tente quebrar a lógica que foi implantada na sua mente se perguntando:

  • Você realmente precisa disso?

  • Você pode pagar por isso?

  • Você não esta querendo ser incluído ou afirmar sua personalidade?

  • Você sabe a origem desse produto e para onde ele vai depois?

  • Você não esta sendo iludido pela publicidade e branding?

  • E o mais importante: você acha que essa compra prejudica o planeta?

  • Quantas dessas compras você acha que o planeta consegue suportar?


 

Lowsumerism (baixo consumismo)


Já que o incentivo ao consumo causa mais desigualdade, devemos considerar o baixo consumismo. O "lowsumerism" é ter mais consciência nas escolhas e consumir menos.



Buy Nothing Day - 28 de Novembro de 2020


Com três simples atitudes podemos provocar um grande impacto:

  1. Sempre pensar antes de comprar

  2. Buscar alternativas de menor impacto para os recursos naturais, como trocar, consertar e fazer

  3. Viver somente com aquilo que é realmente necessário


"O consumo é a única finalidade e o único propósito de todas produção" - Adam Smith

Em adição, os movimentos slow, sustentáveis, conscientizadores e responsabilizadores pregam atitudes que são resumidas nesses seguintes R's:

  • Reduce (Reduzir)

  • Rethink (Repense)

  • Refuse (Recuse)

  • Responsability (Responsabilidade)

  • Respect (Respeito)

  • Reuse (Reutilizar)

  • Recycle (Reciclar)

  • Research (Pesquisar)

  • Repurpose (Transformar)

  • Repair (Reparar)

  • Refund (Reintegre)

  • Rent (Alugar)

Lowsumerismo é um movimento que precisa ser colocado em prática agora. Porque o mundo não pode mais esperar. Afinal de contas, a Terra é nossa casa, não um imenso shopping center. O consumismo é um comportamento ultrapassado do qual logo teremos vergonha (vide machismo, nazismo, fascismo, racismo, especismo). Nos tornando "lowsumers" temos uma chance de mudar o futuro, mas essa mudança precisa de todos nós.


 


Consumo com propósito


“A construção de uma marca, assim como o processo de construção da nossa identidade, passa por um processo de observação do nosso mundo exterior e do mundo interior, nesse cruzamento que surgem marcas, pessoas e líderes inspiradores" - André Carvalhal

Enquanto sociedade estamos deixando a torneira do consumo jorrar enquanto tentamos enxugar o chão do jeito que da. Fechar a torneira é algo impossível, mas podemos diminuir o fluxo de bens produzidos, aumentar o volume de qualidade dos produtos, escolher quais afluentes nos abasteceram e pensar em:

  • Apoiar o comércio local

  • Conhecer a procedência do que esta comprando

  • Investigar a marca

  • Quem produz aquele bem

  • Preço justo

  • Profissionais bem remunerados

  • Matérias primas sustentáveis

  • Inclusão social

  • Reutilização de resíduos

  • Descarte correto

Claro que precisamos do apoio das marcas, que precisam se reinventar nesse momento crucial para o planeta. Já que industria da moda é a mais bem sucedida em nos convencer a comprar coisas que não precisamos, ela também pode fazer o contrário.






 

Não se considere mais um consumidor.


 

Referências

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